Na disputa eleitoral, prefeitura da Capital é parada obrigatória no caminho do poder
Em disputa na eleição, prefeitura de Campo Grande é parada obrigatória na escalada do poder
Publicado em: 07/08/2020 às 06h38Não chega ao extremo do “compre um e leve dois”, mas passar pela cadeira de prefeito de Campo Grande, cargo em disputa nas eleições de novembro, faz parte do roteiro para quem almeja mais poder.Parte desse cenário se explica em números: a cidade é o maior colégio eleitoral de MS, concentrando 612. 484 de 1,9 milhão de eleitores do Estado.
Também pesa a vitrine oferecida a quem lidera o município mais populoso do Estado e maneja um orçamento anual de R$ 4,3 bilhões.
A estreita ligação entre ser prefeito de Campo Grande e governador de Mato Grosso do Sul é histórica. O ponto de partida é 1959, com Wilson Barbosa Martins. Sobrinho de Vespasiano Barbosa Martins (que desde 1918 esteve à frente da cidade por quatro vezes), o advogado foi prefeito da Capital até 1963.
Duas décadas depois, em 1983, Wilson Barbosa Martins foi eleito governador. E teve direito a bis, com o retorno para o cargo em 1995. A conexão prefeito de Campo Grande a governador também foi seguida por Marcelo Miranda. Entre 1977 e 1979, ele comandou a prefeitura. Depois, foi nomeado governador até 1980. Anos depois, eleito pelo voto, Miranda governou o Estado entre 1987 e 1991.
A prefeitura de Campo Grande e o governo do Estado também fazem parte da trajetória de André Puccinelli. A Capital foi conquistada na eleição de 1996, que ficou na história pelos 411 votos de diferença. Naquela ocasião, ser prefeito estava nos planos de Pucinelli, Zeca do PT, Levy Dias, Nelson Trad (sobrenome que anos depois viraria sinônimo de prefeitura) e Carlos Leite.
No primeiro turno, Zeca foi melhor (101.657 votos), seguido por André Puccinelli (81.217 votos). Mas, no segundo turno o jogo mudou. André foi eleito prefeito de Campo Grande com 131.124 votos, enquanto Zeca teve 130.713 eleitores.
Dois anos depois, em 1998, o petista foi eleito governador em Mato Grosso do Sul, vindo a ser um exemplar da ala dos “quase prefeito” da cidade.
No ano de 2007, Zeca passou a faixa de governador para André. Os dois são protagonistas da maior rivalidade da história recente da crônica política em MS, Antes da dupla, o antagonismo político levava os nomes de Pedro Pedrossian e Wilson Barbosa Martins. Após décadas de rivalidade, ambos morreram no mesmo partido, o MDB.
A partir de 2005, a prefeitura de Campo Grande (MS) viu ser inaugurada a dinastia da família Trad. Nelson Trad Filho venceu a eleição em 2004, foi reeleito e só deixou a cadeira de prefeito em 2012. Dois anos depois, em 2014, concorreu a governador, mas na ocasião a vitória foi de Reinaldo Azambuja (PSDB).
O tucano já havia sido prefeito de Maracaju, mas só ganhou musculatura política quando tentou a prefeitura de Campo Grande. A vitória não veio em 2012, mas o tornou conhecido e a colheita não tardou: passados dois anos, Azambuja derrotou Delcídio do Amaral (PT) e foi eleito governador.
Em Campo Grande, a eleição para prefeito em 2012 foi vencida no segundo turno por Alcides Bernal. Na ocasião, a disputa foi travada com Edson Giroto, a candidatura que era um projeto pessoal de Puccinelli. Foi o pleito do “girotear”, verbo criado por André, afeiçoado aos neologismos. O então governador foi gravado numa reunião política perguntando em quem os presentes, no caso servidores públicos votariam, e prometeu “girotear”.
Bernal foi cassado e sucedido por Gilmar Olarte. Nas idas e vindas da Justiça, Olarte foi afastado e renunciou. O cargo voltou para Bernal, que tentou a reeleição, mas perdeu para outro membro da família Trad, o Marquinhos, que vai disputar a reeleição.
O retrospecto mostra que a terra vermelha da Cidade Morena também é fértil para projetos de poder. Até mesmo Pedro Pedrossian, que foi governador de MS nada menos do que três vezes, contou, numa entrevista, que gostaria de ter sido prefeito de Campo Grande: uma cidade rica, que daria para cobrir as ruas de ouro.