'Há mais de 50 anos não tinha uma seca igual', diz ministra sobre o Pantanal (MS)
Ministra da Agricultura diz que fogo no Pantanal prejudica agricultor e é preciso investir no combate aos incêndios. Segundo Tereza Cristina, em razão da seca enfrentada no bioma, os focos voltarão a crescer nas próximas semanas
Publicado em: 30/09/2020 às 09h20Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina Correa da Costa afirmou, ontem, que o agricultor do Pantanal está tendo prejuízos com as queimadas que atingem a região e defendeu uma destinação maior de recursos para combate e prevenção ao fogo. Segundo ela, a seca contribui negativamente para a propagação de focos. As queimadas já devastaram quase 3,5 milhões de hectares do bioma.
“Nós sempre tivemos incêndios no Pantanal. Que o Pantanal é muito seco não é uma coisa nova, que aconteceu somente este ano, mas, este ano, foi desproporcional ao que aconteceu nos anos passados. Há mais de 50 anos não tinha uma seca igual. Os focos (de incêndio) estão voltando porque vamos passar esta semana e a próxima com muita seca (no Pantanal). Aquele fogo que, em muitos lugares, estava supostamente apagado, às vezes, volta com o vento”, avisou. O assunto foi abordado, ontem, pela ministra em uma live sobre sustentabilidade.
A bióloga Letícia Larcher, coordenadora técnica do Instituto Homem Pantaneiro, de Corumbá (MS), concorda em parte com a fala da ministra. “Historicamente, o Pantanal tem ciclos de cheia e seca, e a gente está em um ciclo de seca. Isso é uma questão natural do Pantanal. Mas a gente ainda não tem estudos suficientes para falar se o que está acontecendo agora, com a seca do Rio Paraguai, é uma seca do ciclo hídrico do rio ou se é uma seca em decorrência das mudanças climáticas, desmatamento de nascentes e outras intervenções, como construção de hidroelétricas de rios”, explicou.
Mas, destaca, a seca acelera e aumenta o impacto do fogo. Nisso, “ela está correta porque a vegetação que estaria ou deveria começar a inundar pelo ciclo que começaria, agora, em agosto, setembro e outubro não aconteceu. Toda vegetação que deveria estar alagada, está pegando fogo. O fogo chega e a água, que está ali, não é suficiente para conter”, completou a especialista.
A ministra destacou, ainda, a dificuldade de combater e prevenir incêndios nos biomas nacionais. Segundo ela, é necessário educar os produtores que ainda usam técnicas rudimentares de manejo agrícola. “Em um país como o nosso, gigante, é muito difícil você dizer que vai resolver isso (queimadas) em curto prazo. Primeiro, é preciso educação, conscientização e você tem, aí, diversas variáveis. Você tem aquele pequeno produtor que ainda usa a prática da queimada.
São prática rudimentares. Por isso que se fala em assistência técnica e extensão rural para chegar até ele (o produtor), para que ele mude essa prática. Mas é um conjunto de fatores. Eu preciso que ele tenha primeiro a terra regularizada, para que eu também possa puni-lo, se estiver fazendo errado. Segundo, ele precisa ter crédito para mudar essa prática antiga e rudimentar para que ele conheça e tenha condições de implementar práticas mais modernas de manejo agrícola”, falou, ao ressaltar a importância da regularização fundiária para a prevenção de futuros incêndios.
De acordo com a chefe da pasta de Agricultura, é necessário, ainda, “é preciso separar o joio do trigo” quando se analisa a origem dos incêndios no bioma. “Será que o produtor do Pantanal, o homem pantaneiro, está feliz com esses incêndios que começaram como queimadas? Eu não quero criminalizar e nem descriminalizar ninguém, mas a grande maioria dos pantaneiros terá prejuízos enormes com essas queimadas”, frisou.