Quinta-feira, 28 de março de 2024

Franceses protestam contra restrições para conter avanço da nova variante viral

Aproximadamente 200 mil vão às ruas de várias cidades em repúdio ao passe sanitário, que exige vacinação ou teste negativo de covid-19 para entrada em cafés, restaurantes e locais culturais. Enquanto isso, vários países endurecem medidas para enfrentar a variante Delta

Publicado em: 01/08/2021 às 07h39


Enquanto vários países endurecem restrições para conter o avanço da variante Delta do Sars-CoV-2, cerca de 200 mil pessoas — a maioria, sem máscara — foram às ruas de cidades francesas para protestar contra o passe sanitário. O documento, que atesta a vacinação e/ou resultado negativo no teste de covid-19, é obrigatório para entrada em vários locais e, na interpretação dos manifestantes, afronta a democracia. A França enfrenta a quarta onda da doença, com aumento de casos especialmente em locais turísticos. Os não vacinados representam cerca de 85% dos pacientes internados no país e 78% dos óbitos associados ao coronavírus.

Aprovado definitivamente há uma semana no Parlamento, o passe de saúde começou a ser aplicado em espaços culturais e de lazer. A extensão da medida para cafés, feiras, exposições, restaurantes e trens está prevista para 9 de agosto. Porém, o Conselho Constitucional proferirá a decisão sobre a lei na quinta-feira. Até a aprovação da exigência do documento, os testes de covid-19 eram oferecidos de graça. Agora, é preciso pagar para realizá-los.

“Não à ditadura”, gritavam manifestantes perto da Place da République na tarde de ontem, enquanto outros cantavam o hino francês, a Marseillaise. A polícia respondeu com gás lacrimogêneo e prendeu duas pessoas no local. Segundo um relatório parcial do Ministério do Interior, houve 19 detenções no país, sendo 10 na capital. O órgão afirmou que três integrantes das forças de segurança ficaram feridos em Paris.

Esse foi o terceiro fim de semana seguido de protestos contra o passe de saúde e bateu recorde de participações, em comparação aos anteriores, que registraram, respectivamente, 110 mil e 160 mil pessoas.

Rigor
Outros países europeus também enfrentam a quarta onda e anunciaram mudanças nas medidas sanitárias. A partir de hoje, a Alemanha vai generalizar a obrigatoriedade de que os turistas não vacinados apresentem um exame anticovid ao entrar no país.

Uma nova pesquisa realizada no continente mostra que relaxar as medidas antivírus antes de vacinar toda a população aumenta muito o risco de surgimento de variantes mais resistentes. Em um momento em que 60% dos europeus receberam pelo menos uma dose, os autores do estudo destacaram a necessidade de se manter as restrições até que todos estejam completamente vacinados.

Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden afirmou que novas medidas serão impostas, em reação ao aumento de casos devido à variante Delta. O avanço da doença também levou a China a determinar o confinamento em cinco províncias e à capital, Pequim. É a primeira vez, em seis meses, que a política de covid zero se vê ameaçada pela volta de surtos, que já alcançam 14 territórios do gigante asiático e, ontem, chegaram a Fujian e a Chongqing, no sudeste. “A principal cepa em circulação atualmente é a variante Delta, o que representa um desafio maior para a prevenção do vírus e o trabalho de controle”, disse Mi Feng, porta-voz da Comissão Nacional de Saúde.

Outros países asiáticos também sofrem com o aumento de casos e endurecem as medidas de controle. Nas Filipinas, 13 milhões de pessoas serão confinadas na próxima semana na região de Manila. No Japão, apesar de o número de casos continuar baixo comparativamente a outros países, os especialistas dizem que o sistema médico corre o risco de se saturar devido ao baixo nível de vacinação: apenas um quarto da população recebeu duas doses.

Na África, o Senegal, relativamente a salvo durante muito tempo, vive um surto de contágios. Já o Quênia, que só aplicou 1,7 milhão de doses em uma população de 52 milhões, estendeu o toque de recolher noturno e proibiu as reuniões públicas. Na Austrália, o número de contágios bateu recorde na quinta-feira, e a polícia de Sydney anunciou a ajuda de 300 soldados para fazer cumprir as restrições na maior cidade do país.

Abertura a brasileiros

Apesar do aumento no número de casos de covid-19 e de novas medidas para contê-los, o governo espanhol decretou o levantamento parcial, a partir de 3 de agosto, das restrições vigentes para os voos procedentes do Brasil e da África do Sul. Desde fevereiro, Madri proibiu as chegadas aéreas desses países, exceto para cidadãos ou residentes da Espanha e de Andorra ou passageiros em trânsito. Agora, todos aqueles vacinados, com testes negativos ou comprovante de um contágio recente de covid-19 poderão desembarcar, mas deverão fazer uma quarentena de 10 dias.

Segundo o Boletim Oficial do Estado espanhol, publicado ontem, no caso dos vacinados, serão aceitos os passageiros que tomaram as duas doses de Coronavac, AstraZeneca ou Pfizer pelo menos duas semanas antes da entrada na Espanha.

Para isso, é preciso apresentar um certificado digital do Ministério da Saúde, com tradução da embaixada do país, o que pode ser requerido pela internet. O teste negativo deverá ser realizado, no máximo, 48 horas antes do desembarque. No caso de quem teve a doença, é preciso comprovar a recuperação com mais de 11 dias do desembarque em território espanhol.

Recentemente, Madri impôs as mesmas condições aos passageiros de Argentina, Colômbia e Bolívia, de onde também houve fortes restrições para os voos. A Espanha enfrenta há semanas um forte aumento de casos de covid, com uma incidência de 687 ocorrências a cada 100 mil habitantes em 14 dias, apesar dos altos índices de vacinação entre sua população, com quase 57% com a imunização completa e 67% com pelo menos a primeira dose.