Sexta-feira, 29 de março de 2024

“Financial Times” compara eleição brasileira a um “cenário de pesadelo”

O famoso jornal “Financial Times” comparou a eleição presidencial brasileira em 2018 a um “cenário de pesadelo”

Publicado em: 27/09/2018 às 07h23


A pouco mais de uma semana para as eleições de 2018 no Brasil, o jornal britânico de economia “Financial Times” apresentou uma análise dos principais candidatos ao Palácio do Planalto, ressaltando que eles estão pulverizados da esquerda até a extrema-direita. “Para os mercados, alguns analistas consideram que o pleito está se transformando em um cenário de pesadelo que pode condenar o País a mais quatro anos de lutas políticas terríveis”, avaliou a publicação.

Salientando que se trata de uma das eleições mais imprevisíveis e polarizadoras da história recente da maior economia da América Latina, o jornal enfatiza que os investidores estão cada vez mais preocupados. O temor principal é de que os eleitores possam escolher um presidente sem disposição ou capacidade para implementar reformas econômicas necessárias – mas politicamente difíceis – para consertar os desequilíbrios fiscais.

Depois de ser esfaqueado em um comício de campanha no início deste mês, Jair Bolsonaro (PSL), nacionalista de extrema-direita e líder do primeiro turno da eleição presidencial do Brasil, continua empunhado os dedos em fotos postadas nas redes sociais. “Eu nunca me senti melhor na minha vida”, disse ele em um vídeo no Twitter na semana passada.

Enquanto isso, o esquerdista Fernando Haddad, substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como cabeça-de-chapa do PT, subiu nas últimas pesquisas, com menos de duas semanas da votação no primeiro turno. Atrás deles estão o candidato veterano de centro-esquerda Ciro Gomes (PDT), o favorito do mercado, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) e a ambientalista e ex-senadora Marina Silva (Rede).

O primeiro apresentado pelo jornal inglês é Bolsonaro, descrito como um ex-capitão do Exército que se comprometeu a manter uma agenda econômica liberal. Ele recrutou o banqueiro que estudou na Universidade de Chicago (EUA), Paulo Guedes, para administrar seu portfólio econômico. Também prometeu reprimir a criminalidade, conforme o periódico, e sua mensagem anticorrupção ecoa a ascensão dos movimentos populistas na Europa e Estados Unidos.

“Mas o seu estilo político faz o presidente norte-americano Donald Trump parecer gentil. Ele já elogiou o ex-presidente peruano Alberto Fujimori, que virou soldados contra o Congresso Nacional e o Poder Judiciário. Especialistas já disseram no passado que ele era muito radical para vencer, mas as pesquisas recentes indicam o contrário”, apontou reportagem.

Já Haddad foi escolhido pelo PT depois que Lula foi impedido de concorrer. Advogado e economista herdou uma parte considerável da popularidade de Lula, que liderou as pesquisas até ser impedido de participar da eleição: “Haddad é visto como um conservador fiscal e busca seduzir os eleitores de centro e, ao mesmo tempo, afastar as suspeitas dos membros radicais de seu próprio partido”.

Ciro Gomes, veterano candidato de centro-esquerda do PDT e ex-governador do Ceará, apela aos eleitores que estão desiludidos com toda a roubalheira, que atribuem aos 13 anos de governo do PT no governo de Lula e Dilma Rousseff. “Ele é visto como um centrista em questões macroeconômicas mas indicou que pode se alinhar à esquerda em outros tópicos, como a ampliação dos gastos públicos.

Geraldo Alckmin, ex-anestesiologista e favorito dos investidores, até agora não conseguiu ganhar força com os eleitores. Analistas dizem que o ex-governador parece estar prestes a fracassar em sua segunda tentativa à Presidência do Brasil. A publicação recordou que muitos observadores dizem que sua incapacidade de ganhar terreno se deve à falta de carisma e à desilusão dos eleitores com os políticos do establishment, após uma série de escândalos de corrupção envolvendo a maioria dos grandes partidos – incluindo o próprio PSDB.

Marina Silva, ambientalista de centro-esquerda, ex-senadora e ex-ministra, disputa a Presidência pela terceira vez, agora pela Rede. O jornal relembrou que ela ganhou 22 milhões de votos há quatro anos, mas não conseguiu causar um impacto tão grande entre os eleitores desta vez, de acordo com pesquisas recentes. Embora tenha começado a sua carreira política na década de 1980 trabalhando ao lado do ativista Chico Mendes [assassinado em 1988] e tenha mais seguidores no Twitter do que Bolsonaro, a candidata tem sido incapaz de capitalizar esse poder, além de contar com pouco tempo de campanha na TV.