Quinta-feira, 28 de março de 2024

Saiba como J. Paschoal, Kim K. e outros nomes da direita mudaram de lado

Aliados de Bolsonaro que se posicionaram contra as manifestações ou contra atos do presidente passaram a ser 'atacados' nas redes sociais e colocados no mesmo barco de nomes da esquerda

Publicado em: 27/05/2019 às 13h10


Atenção, a lista de comunistas do Brasil foi atualizada. O alerta, que vem se tornando uma espécie de bordão nas redes sociais para se referir aos alvos dos bolsonaristas, rompeu mais um limite nas últimas semanas e passou a atingir alguns dos principais nomes de políticos da direita, como a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) e os deputados militantes do Movimento Brasil Livre (MBL) Kim Kataguiri (DEM) e Arthur do Val (DEM), conhecido como Mamãe Falei.
 
 
O esforço que fizeram na campanha virtual que levou à eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL) não os livrou de serem bombardeados por discordarem da manifestação de ontem e, mais que isso, os colocaram ao lado de artistas e articulistas críticos da esquerda que já haviam sido jogados no barco dos “comunas”.

 
Depois de ser uma das principais responsáveis pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) por sua atuação como advogada do pedido de afastamento da petista e quase compor a chapa de Bolsonaro como candidata a vice-presidente, Janaina Paschoal precisou usar as redes sociais nesta semana para defender a si própria e aliados “acusados” de mudar de lado.


“Chamar Janaina Paschoal, Kim K., Arthur (Mamãe Falei) e general Mourão de comunistas é IGNORÂNCIA”, registrou em caixa alta.

 
Janaina Paschoal passou a ser rotulada depois de ter se recusado a engrossar o coro de chamamento às manifestações pró-Bolsonaro e questionar até a sanidade de um presidente da República que faz esse tipo de convocação.

 
Precisou explicar que não sairia do PSL após dizer que, se os atos fossem um fiasco, Bolsonaro precisaria parar de fazer drama e começar a trabalhar, e que deixaria o grupo de WhatsApp da bancada.

 
Na mesma linha, os líderes do MBL questionaram a pauta dos defensores do governo de ataque ao Congresso estimulada pelo próprio presidente Bolsonaro e acabaram se tornando “inimigos”.
 
 
“Estão me chamando de comunista. Quem discorda do Bolsonaro é comunista”, relatou Kim Kataguiri em entrevista ao jornal O Globo. Kim criticou a demonização dos parlamentares na semana em que Bolsonaro replicou texto dizendo que o país é ingovernável sem conchavos. Arthur de Val também entrou na lista de “traidores” por dizer que a manifestação de apoio ao Executivo era um tiro no pé.


Com cinco meses de governo, nomes que foram reverenciados pela direita como os do cantor Lobão, do cineasta José Padilha, dos jornalistas Raquel Sheherazade e Reinaldo Azevedo também passaram a ser demonizados por questionar aspectos do governo e da família Bolsonaro, como a relação com as milícias e as acusações de rachadinha contra o filho do presidente e agora senador, Flávio Bolsonaro. Um dos últimos a se juntar ao grupo foi o filósofo Luiz Felipe Pondé, que nesta semana chamou Bolsonaro de “burro”.

 
Nesse domingo (26/5), enquanto ocorriam as manifestações, Janaina usou o Twitter para parabenizar os militantes. “Olá, Amados! Acompanhando aqui as manifestações, as pessoas estão de parabéns, até agora, todas as pautas são democráticas. Ao pedir a reforma da Previdência de Guedes e o pacote de Moro, nosso povo mostra maturidade”, postou.
 

Erro conceitual 


Para especialistas em história e comunicação, além do uso da pecha de comunista estar errado conceitualmente, ele remete a uma prática recorrente no mundo e no Brasil, que voltou a ser mais forte desde a campanha eleitoral de 2014.
 

“Existe o comunismo real, que esses movimentos de direita combatem, que é o modelo soviético de criar uma sociedade sem propriedade privada e com igualdade de classes. Mas essa luta contra as ideias comunistas no Brasil desde os anos 1920 gera distorções, de maneira que eram chamados de comunistas pessoas que não eram, seja por confusão ou por interesse de manipular propositadamente para aumentar a sensação de que existe um perigo vermelho”, afirma o especialista em história política e professor da UFMG Rodrigo Patto Sá Motta.

 
O professor fez referência ao golpe de 1937, quando, para se manter no poder, militares e o então presidente Getúlio Vargas alegaram haver um “plano comunista” (Plano Cohen) para derrubá-lo, o que depois foi desmascarado como fraude.

 
A instalação da ditadura militar em 1964 também teve como mote o chamado perigo vermelho e até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a eleição de Bolsonaro, para ele, tiveram esse discurso como um dos componentes.